sexta-feira, 28 de maio de 2010

Brasileiras e Brasileiros


Em matéria publicada no Estadão no início de abril fomos informados que o Brasil poderá reviver a inesquecível experiência de ter na presidência o eminente senador da república pelo Amapá José Ribamar Sarney. Se ocorrer será para evitar que os outros habilitados à substituição do Presidente da República se tornem inelegíveis neste ano.

Lendo isso me lembrei do “brasileiras e brasileiros”, muitíssimo superior ao inefável “nunca antes na história deste país”. Sei que é covardia a comparação, pois o primeiro bordão foi cunhado por um exímio estilista da língua portuguesa, cujo manejo só encontra rival em Antônio Vieira, Machado de Assis e quejandos, o grande acadêmico e imortal chamado de gênio por Millôr Fernandes[1], enquanto o outro é obra de um simples filho de mãe que nasceu analfabeta[2].

No entanto, por mais tentador que seja a possibilidade de se entregar a prazerosa hermenêutica da obra literária do macanudo escritor, é na obra política deste grande vulto da história brasileira que vemos o quanto este homem é indispensável ao novo Brasil que está sendo construido.

Os que possuem mais de 40 anos conhecem a capacidade administrativa do capadócio senador. Se não foi um pascácio no palácio, fez muitos de palhaço. Até hoje me lembro de um primo idiota, com um crachá de fiscal do Sarney, nas Casas da Banha, gritando “Sunab! Sunab!” balançando uma tabela com o preço do feijão enquanto os seguranças tentavam “acalmá-lo!”. Cena digna do realismo mágico praticado pelo dublê de político e escritor. Sob a coordenação do Sarney vivíamos um ambiente surreal, com happenings e intervenções urbanas como essa ocorrendo a todo momento. Zé Celso não faria melhor.

Infelizmente foram só cinco anos presidindo o Brasil, razão pela qual não podemos desfrutar de todos os benefícios proporcionado aos maranhenses pelo insigne senador amapaense.

Analisar, com isenção e objetividade, a obra política do generoso senador[3] naquele estado é compreender a grandiosidade do seu projeto, cuja a qualificação só pode ser, revolucionário. Jornalistas e cientistas políticos soi disant preparados para o debate de questões políticas vivem apontando fisiologismo na aproximação do Partido dos Trabalhadores com bravo e combativo senador, alvo constante de difamadores e agentes a serviço de interesses escusos. A aproximação é ideológica e programática conforme provaremos abaixo.

Lula, esse grande animal político, sabendo que a tomada de consciência geral dos trabalhadores não se dá espontaneamente sacou antes de todos o projeto humanista-revolucionário, voltado para a construção de uma sociedade igualitária e de uma democracia socialista está sendo levado a cabo há décadas no Maranhão sob a orientação abnegado patriarca da família Sarney. Se não, vejamos:

Homem ilustrado que é, o chefe do clã, depois de estudar profundamente os grandes teóricos do socialismo chegou a mesma conclusão a que chegariam muitos anos depois grandes vultos do pensamento revolucionário tupiniquim como Vicentinho, Emir Sader, Paulinho da Força Sindical, José Genoíno, Ziraldo, Delúbio Soares, Marilena Chauí et caterva: para o Brasil se tornar um paraíso é preciso acabar com a sociedade de classes.

Pensou (!) o menino Sarney com seus bigodes ainda não tão pretos, quanto os exibidos quando presidente da república: “construir uma nação que dê oportunidades iguais a todos e prover toda a população dos serviços essenciais é muito difícil, já instituir uma nação igualitariamente miserável é mole pros piratas”[4]

Desde 1966, quando se elegeu governador do Maranhão, filhos e aliados do senador José Sarney dominam a política local, sem perder de vista o norte moral. O José Reinaldo, que se tornou adversário dos Sarney, foi eleito em 2002 pela coligação “Juntos pelo Maranhão”, cujos candidatos a senador eram os honradíssimos Edson Lobão e Roseana Sarney. E o governador Jackson Lago não esquentou o banco. Foi logo mandado para o chaveiro pelo TSE, sendo substituído pela governadora Roseana Sarney.

Foi por conta dessa velha hegemonia moral e política[5] que o Maranhão, pelo menos até 2005, possuía 73 entre os 100 municípios mais pobres do país, 29 entre os 100 com pior IDH, 23,24% de casas com paredes não duráveis, o que garantia o primeiríssimo lugar nesses quesitos. Amargava um terceiro lugar como estado mais escuro do país e maior número de analfabetos[6].

Já em 2007 o Maranhão apresentava segunda maior taxa de mortalidade infantil do país, segunda menor expectativa de vida entre os brasileiros, além da espetacular taxa de 43% de domicílios urbanos com renda per capita de até meio salário mínimo.

Este ano teremos novos dados do IBGE para conferir o atual estado da work in progress do José Sarney.

Não tenho dúvidas que o Maranhão marcará novos e expressivos tentos nessa partida em que o estado dá de goleada nos demais membros da federação, graças ao abnegado esforço do senador Sarney & família.

De nossa parte só esperamos que os bravos povos do Maranhão e Amapá não abandonem José Sarney quando chamados a comparecer nas urnas para renovarem sua confiança no senador, permitindo ao mesmo dar continuidade ao brilhante trabalho desenvolvido ao longo dos anos. E espero também que venha se confirmar a posse, ainda que temporária, do
Senador para que possamos avançar um pouco em nível nacional rumo a tão sonhada sociedade igualitária brasileira.

Sem dúvida alguma o Brasil saberá receber de braços abertos a volta de José Sarney à Presidência da República, afinal ele “não é um cidadão comum”.

P.S. Para demonstrar o quanto o imortal da Academia Brasileira de Letras não descansa um só minuto quando o assunto é manter o Maranhão no rumo traçado lá nos idos de 1966, basta dizer que em 2005 o então governador José Reinaldo Tavares num ato impensado firmou um convênio com o Bird de US$ 30 milhões para programas de geração de renda, o que teria como consequência lógica a formação de uma reprovável sociedade capitalista e competitiva, não mais dependente de bolsas famílias e que tais. Para impedir que esse desvairado projeto fosse a frente o probo José Sarney mobilizou todas suas forças para vetar o projeto no Senado. Nem mesmo a proposta de retornar o pagamento de R$ 700.000,00 mensais ao grupo editorial dos Sarney amoleceu o coração do nobre senador. Contudo, ele não teve sucesso. Mas graças a Deus o dinheiro não foi bem aplicado e não surtiu nenhuma mudança na tradicional sociedade maranhense.

P.S. 1. Os caluniadores não param. Depois de fechado esse texto foi ventilado na grande mídia que o nome do José Sarney consta de uma lista de propinas do nefasto governador do Distrito Federal José Arruda. Impossível! Tenho certeza que tudo não passa da mais deslavada mentira!


Emir de Carvalho

[1] “Fascinado, continuo procurando demonstrar que Brejal dos Guajas é obra sem similar na literatura de todos os tempos. Só um gênio conseguiria fazer um livro errado da primeira a última frase.” In Critica da Razão Impura ou O Primado da Ignorância, pág. 23, 2ª ed., 2002, L&PM.

[2] Nossa equipe de reportagem apurou que a mãe do FHC veio à luz chorando em três idiomas.

[3] Várias pessoas foram empregadas por meio de atos secretos, pois o que interessa ao impoluto senador é ajudar ao próximo, não fazer publicidade do ato. Os verdadeiros justos praticam o bem pelo bem.

[4] Cuba ‘tá aí mesmo para nos provar o acerto da tese.

[5] Homenagem ao deputado paulista-cearense Ciro Gomes. Ele anda precisando de um afago.

[6] Temos um estudo em desenvolvimento no qual a literatura do senador, as teses do Erich Auerbach, especialmente Mimese, e o analfabetismo maranhense são articulados na tentativa de apreender melhor a obra sarneiana. O título provisório é “Sarney, Analfabetismo e Mimese: Um estudo de caso”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não comento mais nessa porra! Se não gostou critica. Falta de educação.