CANALHAS, ESQUIZOFRÊNICOS & BESTAS

Esse post é dedicado ao Cao.

Meu último post tratou da podridão inerente à condição humana. Claro que fazia piada (nem tanto, né?), mas meu dileto amigo, o filósofo Olavo Sader, com todo seu cabedal de erudição, disse-me que se eu pretendia mergulhar verdadeiramente na alma humana, deveria ler Shakespeare. Mais especificamente, Hamlet. Se tivesse indicado algum cucólogo, tal qual Lacan ou Freud, o cocainômano, teria o mandado à merda. Mas como Hamlet possui tradução brasileira de Millôr Fernades (L&PM pocket), resolvi aceitar a sugestão e encarei de bom grado o bardo.

Quando peguei o livro não tava nem aí para mergulhos na alma, profundidade psicológica, arquitetura da peça, ou qualquer dessas bobagens. Queria mesmo é dar um verniz de erudição a minha pregação. E, estimados leitores, não é que consegui?

Vejam o que Shakespeare põe na boca (epa! No bom sentido meninas e meninos.) do príncipe dinamarquês (ato III, cena I) quando este dialoga com Ofélia, que é pessoalzinho dele, se é que me entendem:

“Vai prum convento. Ou preferes ser geratriz de pecadores? Eu também sou razoavelmente virtuoso. Ainda assim, posso acusar a mim mesmo de tais coisas que talvez fosse melhor minha mãe não me ter dado à luz. Sou arrogante, vingativo, ambicioso; com mais crimes na consciência do que pensamentos para concebê-los, imaginação para desenvolvê-los, tempo para executá-los. Que fazem indivíduos como eu rastejando entre o céu e a terra? Somos todos rematados canalhas, todos! Não acredite em nenhum de nós. Vai, segue pro convento.”

Viram, só? Não é só seu amado Frei Emir de Carvalho que considera a espécie humana uma corja de fdp. Não. Tem gente boa entre nós.

Meus caríssimos fiéis, assim que arrumar mais embasamento para justificar essa novíssima “Teologia da Podridão” instituo o dízimo e forneço o número da minha conta bancária.

Aguardem os próximos capítulos da nossa saga.

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Ainda sobre nossa condição, um pequeno estudo de caso para destacarmos os habitantes do bananão como espécimes mais medíocres que a média da humanidade.

Liguei a televisão (nota: nunca escrevo TV. Acho uma intimidade falsa. Coisa de bicha marqueteira. Ou marqueteiro bicha. Dá no mesmo. Ênfase no dá.). Estava rolando a prova de natação. São oito raias. E o locutor se anima, com a oitava colocação do brasileiro (!?!). Não entendi o orgulho. Será que dava pra ser pior que o último?

As ginastas olímpicas ficam também em oitavo, ou seja, em último e o Pedro Bial diz a elas “todos os brasileiros estão orgulhosos de vocês. Vocês foram maravilhosas!”.

Eu, não! Mesmo se ganhassem não me orgulharia. Perdendo então, aí que não sou acometido por nenhum sentimento ufanista, que de resto é sempre nefasto.

Mas começo a esticar demais essa introdução. Na verdade quero que se fodam todos os atletas de todas as delegações. O que me chamou a atenção a ponto de vir aqui escrever é o fato de que além de canalhas (como quer Shakespeare) ou podres (como digo eu), nós brasileiros temos um plus de esquizofrenia.

Se o importante é competir, segundo os animadores de auditório travestidos de repórteres televisivos, por que devemos ter tanto orgulho quando algum atleta brasileiro conquista uma medalha?

Ou o importante é competir, e o simples fato de haver um “representante” brasileiro já é motivo de orgulho independente do resultado obtido, ou só deveríamos nos orgulhar quando “nosso” esportista é laureado, não bastando competir, sendo, sim, necessário vencer.

É preciso hierarquizar a coisa. As duas terem o mesmo valor é caso pra internação.

Canalhas, podres e esquizofrênicos. É o que somos todos!

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Pra encerrar, só mais um historinha vivida por um amigo professor. Um cara realmente notável. De quem se pode dizer com toda propriedade que é uma cabeça de destaque.

Pois, bem. Vamos ao caso.

Esse professor amigo meu, sempre relata suas experiências empíricas para que eu possa melhor fundamentar minha descrença na espécie humana.

Vejam o que uma aluna de graduação, durante a aula de filosofia do direito disse em sala: “mas, professor, a verdade é relativa.”

Isso aqui não é blog de filosofia, portanto, sigo ao largo da discussão se existe ou não verdade. Como anda na moda dizer por aí, “me inclui fora dessa”.

Agora, que a aluna cagou pela boca, isso é fácil de provar.

Se afirmarmos que a verdade é relativa, como fez a moçoila, esse enunciado deve ser lido como portador de uma verdade inquestionável, ou seja, absoluta, sob pena de inviabilizar a análise de seu conteúdo.

Mas se é uma verdade absoluta, essa não é uma verdade relativa. Assim sendo ela formulou uma regra geral (“a verdade é relativa”) que se nega em seus próprios fundamentos. Logo a afirmação é falsa.

Uma bobagem dessas quando excretada por representante da elite estudantil de um país, da nata de um país, sem questionamento de seus pares, denota que o quadro geral é deplorável e que a inteligência é realmente a exceção.

É chegada a hora de assumirmos: nós humanos somos umas bestas!