PAULINHO CACETETE E O DESCONHECIDO SAMBA SERIAL DA DÉCADA DE 70
Desconhecido do público e rejeitado pela crítica, Paulinho Cacetete, nascido em 19 de fevereiro de 1946, em Austin, Baixada Fluminense, foi o idealizador do projeto samba serial. Samba serial é uma subdivisão do serialismo. O serialismo é um método de composição musical surgido na primeira metade do século XX como desdobramento do dodecafonismo.
De fato, o próprio dodecafonismo é às vezes chamado também de serialismo. Portanto, para evitar ambigüidades, usa-se a denominação serialismo dodecafônico ou simplesmente dodecafonismo para fazer referência àquele, sendo o serialismo propriamente denominado preferencialmente serialismo integral.
A diferença entre os dois sistemas está em que o serialismo integral, no limite, se baseia numa série para ordenar todos os parâmetros do som em uma peça. Desse modo, duração, timbre, altura e intensidade são, todos eles, definidos a partir de uma série, que nesse caso, em geral se organiza como uma série de razões do tipo 2:3:7:5:1 etc.
Samba Serial é, portanto, a intersecção entre o samba de raiz e o serialismo.
Os sambas de Cacetete totalmente serializados incluem Carne Esponjosa, (1974) para 18 instrumentos, e Carne Mijada I, para dois pianos e um pandeiro. Carne Esponjosa foi também ponto de inflexão para Cacetete. Como uma das obras mais visivelmente serializadas em sua totalidade, serviu de archote de iluminação para diversas espécies de criticismo. Deste samba, pode-se afirmar acerca dos versos de Carne Esponjosa a ascensão de um suspiro. De um suspiro, sem nenhuma dúvida, mas antes uma descida que uma ascensão onde o hermetismo aparente serve-lhe com freqüência para dissimular suas preocupações eróticas.
CARNE ESPONJOSA
Sou professor de Semiótica na UFRJ
nunca comi aluna nenhuma
Por isso sou considerado um idiota
Desde o Leblon até Inhaúma
Mas tenho um ponto a meu favor
Uma protuberância indecente
em algumas pessoas causa horror
mas provoca lascívia nas discentes
Tenho uma carninha gostosa
Em relevo na minha perna
É minha carne esponjosa
Tenho uma carninha gostosa
Em relevo na minha perna
É minha carne esponjosa
Na revista Sururu de Capote ( nº 6, de maio de 1976), Pedrão Bombeiro publicou artigo em que examinava os padrões de duração, dinâmica e timbre da obra Carne Mijada I, e chegou à conclusão que um timbre único não encaixava no modelo, que ele então continuava a questionar em exasperante detalhamento. Essas críticas, combinadas com o que Cacetete sentia, foram “uma falta de flexibilidade expressiva na linguagem”, como ele delineou em seu ensaio “Beneplácito de cu é rola”,levaram Cacetete a refinar sua linguagem composicional. Ele destilou o sentimento de total serialização para dentro de música mais sutil e fortemente gestual ( a coreografia erótico-minimalista de Couro de Pica), e manteve secretos seus métodos de composição, para previnir pessoas como Pedrão de discutir sua técnica, em lugar de focar no conteúdo de sua música. A mais forte aquisição de Cacetete nesse método é sua obra-prima Carne Mijada II para conjunto, trigogô e voz, de 1978-1979, uma das poucas obras de música avançada dos anos 1970 a manter-se no repertório.
CARNE MIJADA II
O buraco da vagina é um buraco imundo
É um buraco pra dentro e acumula mijo
E o que mais me intriga é que ele não tem fundo
Eu meto o cacete até o talo e não encontro o fundo
Dois palmos de cacete rijo
E eu não acho fundo no buraco imundo
Experimentação
Depois de Carne Mijada II, Cacetete começou a fortalecer a posição dos compositores da música pós-Ditadura. Ele também começou a considerar novos caminhos para sua própria obra. Com Corpo Cavernoso para apito, repique, tarol e soprano, ele começou a trabalhar com uma idéia de improvisação e de finais abertos. Ele considerou como o meaestro ( denominação criada por Cacetete como “fusão entre mestre sala e maestro”) deveria estar apto a 'improvisar' sobre notações vagas, tais como a fermata, e como os tocadores podiam 'improvisar' sobre durações irracionais, tais como notas adicionais e rítmicas. Para além disso, ele trabalhou com a idéia de deixar o ordenamento específico de movimentos ou seções de música abertos para serem escolhidos para uma noite particular de uma apresentação, uma idéia relacionada com a forma móvel de Karlheinz Stockhausen. Curiosamente, embora as duas obras pareçam semelhantes hoje, e certamente representam a mesma impecável técnica, Corpo Cavernoso não foi recebida tão bem quanto Carne Mijada I. Stravinsky, por exemplo, odiava a primeira, mas amava a última. Leci Brandão, declarou timidamente, em entrevista à Sururu de Capote ( nº 47, de junho de 1984) que gostara somente de Carne Mijada II. Essa é talvez mais um barômetro cultural do que reflexão sobre o trabalho em si. Durante o tempo em que Cacetete estava testando essas novas idéias, aqueles colegas que nunca tinham estado inteiramente confortáveis com a proeminência de uma linguagem musical rigorosa, como Beto-sem-braço, trouxeram um contra-argumento musical convincente para os ideais musicais de Cacetete. Em uma reviravolta poética, Cacetete moveu-se de um respeito irrestrito a Martela o Martelão ( depois citada em canção do Bonde do Tigrão), significando “o martelo da cabeça rachada”, para aparente decepção com A racha azeda (Dobra sobre dobra), que dialogou com um poema de Stéphane Mallarmé sobre a exasperante impotência de um pedreiro, incapaz de levantar sua “ferramenta de trabalho”.
A partir dos anos 80, começando com a Terceiro Batuque para Piano (1985), Cacetete experimentou com o que ele chamou de casualidade controlada e desenvolveu seus pontos de vista sobre música aleatória nos artigos Gislene e Cleuza, que queres vós de mim? na revista Sururu de Capote ( nº 96, de dezembro de 1989). Seu uso da casualidade – que iria posteriormente empregar em composições como Ai minha bola do saco! e Tripa Lombeira é melhor do que o Angu do Gomes – é muito diferente daquele, por exemplo, utilizado por John Cage em suas obras. Enquanto na música de Cage aos executantes é-lhes dada freqüentemente a liberdade para improvisar e criar sons completamente novos, nas obras de Cacetete eles somente podem escolher entre possibilidades que foram escritas em pormenores pelo compositor – um método que é freqüentemente descrito como forma móvel.
Década de 1990
Alguns críticos têm acusado Cacetete de experimentar tardiamente as modas musicais francesas e norte-americanas nos anos 70, por exemplo, o Chuta que é Macumba para orquestra dividido em oito grupos foi visto como sob a influência do minimalismo americano. Nenhuma dessas modas pareceu encaixar bem em Cacetete, e gradualmente, Cacetete fecha o livro sobre esse tipo de experimentação. Algumas revisões posteriores de suas obras, tal como um ordenamento fixo para os movimentos de Chuta que é Macumba II (que previamente podia ser tocado em qualquer ordem), são vistas como reação contra a mencionada linha de crítica. Cacetete pessoalmente explicou que – depois de trabalhar um pouco com a referida composição – parecia que havia, enfim, a melhor ordem: aquela que ele escolheu!
Contudo, Cacetete tinha tido, antes disso, uma forte tendência a considerar todas suas peças como trabalho em andamento. Sua produção, desde a década de 1970, tinha desacelerado consideravelmente; as obras tendem a ser completadas depois de muitos anos, e algumas, como a Terceira Esporrada para Piano (1956- ), permanecem inacabadas, embora dois de seus planejados cinco movimentos venham sendo executados. ...évelho-mais/émeu---porra!..., (é o título da peça) é efetivamente um concerto de caixa de fósforo com eletrôtetônica ( misto de eletrônica e Eletrotécnica, curso que fez no Senac), foi a princípio escrito nos anos setenta (1970) e completamente revisado nos anos noventa. Uma de suas primeiras obras Nabunda nada? para piano (1955), que consistia de pequenas miniaturas, está hoje no processo de ser transformada em uma peça para orquestra, com seus diminutos movimentos para piano metamorfoseados em ciclo orquestral monolítico. No mínimo sete movimentos desse projeto foram concluídos.
TERCEIRA ESPORRADA PARA PIANO ( Bolero de Ravel em Samba de Breque)
T-T-T-T-T-T-T-T-T-T-Terceira
Eira-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a-a
Esporr
ada
p-a-r-a--p-i-a-n
o
g-g-g-g-g-o-o-o-o-z-z-z-z-e-e-e-i-i-i-i
Exame de próstata ( 1990-1994) trabalha com a idéia musical de ressonância e a espacialização dos sons que - criados pelo conjunto - fossem processados em tempo real (a música eletrônica era normalmente criada penosamente em situações controladas, e então gravada em fitas, e assim 'fixadas' em um substrato para poder fazer uma apresentação).
Cacetete é particularmente talentoso por suas interpretações sambísticas cultivadas de clássicos do século XX: Claude Debussy,Gustav Mahler, Arnold Schoenberg, Igor Stravinsky, Béla Bartók, Anton Webern e Edgard Varèse. Em 1984, ele regravou em ritmo de maxixe toda a obra de Frank Zappa . Seu repertório do século XIX focaliza Ludwig van Beethoven, Hector Berlioz , Robert Schumann e especialmente os tambores africanos.
de Olavo Sader ( Bacharel I )
7 comentários:
Por que todos os artistas de valor são rejeitados pela mídia? É uma grande injustiça! Essas duas personalidades do blog, nem mesmo eu - pretenso conhecedor de música brasileira - conhecia.
Muito bom o trabalho do Blog quebrando preconceitos e construindo a verdadeira cultura brasileira.
Pois, é. Está aí uma prova que o filósofo Olavo Sader acertou ao elaborar o Bacharel em Baixarias. Mau foram lançadas as primeiras porcarias aos peroleiros e estes já se manifestam, tentando se equilibrar sobre duas patas e dizer algo "inteligente". Sai pra lá ô babaca! Vá fazer comentários no blog da Apae o filho da puta!
Sr Anônimo,
não estrague o espírito pacífico do blog denunciando com tanta agressividade o que não parece muito evidente para todos. Reconhecer uma ironia é também qualidade de quem anda sobre duas patas. Talvez falte um pouco de alternativa à masturbação para acalmar um pouco mais o ímpeto de insultos do senhor.
ESTOU COM O JEAN MARIE QUE DIZ QUE ESSE ANÔNIMO É UMA BESTA ( ESSA, QUE REALMENTE ANDA DE QUATRO PATAS) SEM EDUCAÇÃO. VIIOLÊNCIA VERBAL GRATUITA E INFANTIL.
ACHEI MUITO LEGAL AS BIOGRAFIAS E ESTOU PESQUISANDO MAIS SOBRE ESSTASPESSOAS DESCONHECIDAS E TÃO INTERESSANTES E QUE ME PARECE QUE DEVIDO À CONTROVÉRSIA DOS SEUS TRABALHOS FORAM POSTOA DE LADO PELA MÍDIA.
MUITO LEGAL A INICIATIVA DO BLOG.
EU SÓ QUERIA SABER DE VERDADE QUEM É OU SÃO OS VERDADEIROS AUTORES POIS ME PARECE QUE OS NOMES QUE SAEM DEPOIS DOS ARTIGOS SÃO FICTÍCIOS. ( É UM TROCADILHO COM OLAVO DE CARVALHO E EMIR SADER, OS DOIS FILÓSOFOS?)É, NÃO SOU BURRINHA NÃO! AQUI NA FACULDADE EU JA OUVI FALAR DELES ALGUMAS VEZES NA AULA DE SOCIOLOGIA.
BEIJOS
BETH
Ô Betinha, que lidinha! Que burrinha que nada! Gostei muito do seu "esstas" com dois "ss". É uma sacada de mestre. Acaba de vez com a polêmica sobre se deve usar essa ou esta. Você usa as duas concomitantemente. Não tem como errar. Se não for uma é a outra. Parabéns! Você deve ser uma aluna muito aplicada de sociologia! Pena que além de boa aluna você seja um nome e não uma rima. Beth, beth, que bom seria se me pagasse um ... chiclete. Beijos do violento verbal gratuito e infantil.
NÃO SABE O QUE É ERRO DE DIGITAÇÃO NÃO Ô CARA? qUEM VOCÊ É? TÁ AMONIMO O TEMPO TODO.AQUI QUE DEVERIA SER IM DEBATE INTELECTUAL DE IDÉIAS E CULTURAL VOCÊ SÓ FICA FAZENDO CRÍTICAS E OFENDENDO.ME PARECE QUE VOCÊ É O EMIR DE CARVALHO NÃO É ? EU ESTOU ACOMPANHANDO O BLOG E ESTOU VENDO QUE VC É O QUE QUER SER O "POLÊMICO" MAU HUMORADO TIPO O BOLA DO PÂNICO. E AÍNDA NÃO ME RESPONDERAM SOBRE OS PSEUDÔNIMOS EMIR DE CARVALHO E OLAVO SADER. SE VOCÊ FOR O EMIR DE CARVALHO. SEJA VERDADEIRO AO MENOS AO ASSUMIR O SEU NOME FALSO. IDIOTA.
BETH
Betinha, Betinha, você é uma gracinha. Como diria o Evandro Mesquita "calma, Beth, calma". Beijos do idiota anônimo que te ama.
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